De presidiária a estrela sertaneja: figurinista de Justiça 2 explica conceituação da série

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Para idealizar projetos, Marie Salles parte de pesquisa de campo até redes sociais, em busca de dar verossimilhança aos personagens Milena, personagem de Nanda Costa em Justiça 2, é presa no começo da série e se torna uma estrela do sertanejo anos depois
Globo
O espectador desaviado que encontra Milena em diferentes episódios de Justiça 2, pode acreditar que o Globoplay colocou outra série no lugar. Mas não há erros – pelo contrário, inclusive. Vivida por Nanda Costa, ela encara uma trajetória rumo ao sucesso bem particular, cujo começo é marcado por um visual simples, de uma jovem trombadinha, que, ao longo da história, vira uma estrela do sertanejo. As drásticas mudanças ecoam nas roupas, setor de responsabilidade de Marie Salles, figurinista do projeto.
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‘Justiça 2’: com o sonho de se tornar cantora, Milena é presa no primeiro episódio da série
Globo/Estevam Avellar
“Os personagens passam por transformações muito forte. Eles são presos. Então, sete anos depois, são transformados. E o figurino também reflete essa transformação. Principalmente a personagem da Nanda Costa, a Milena”, explica Marie.
Milena passa por ‘um banho de loja’ após sair da cadeia
Globo/Bruno Stuckert
“Ela vira uma cantora de piseiro, então, o figurino dela troca completamente. (…) E, mais do que isso, vai mudando as atitudes. Logo no início, ao sair da cadeia, ela vai à gravadora com suas roupas antigas. Um dia depois, já faz um banho de loja e começa a se transformar numa estrela. Aí, é muito brilho, rosa, bota branca. O céu é o limite, porque tem pluma, de tudo. Acho o figurino dela muito real. Pesquisamos muito as cantoras de sertanejo. Alguns dos itens que ela usava, outras cantoras reais têm no guarda-roupa, porque depois vi no Instagram”, conta.
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Olhar urbano
Antes de ser presa, Geyza usa cores fortes, como rosa e amarelo; depois do período na cadeia, personagem “perde” as cores
Globo/Bruno Stuckert
Marie assume o trabalho executado por Cao Albuquerque e Natalia Duran Stepanenko, figurinistas da primeira temporada, retratada em Recife. Agora, sai o Nordeste e entra o Centro-Oeste brasileiro; situada em Ceilândia, principal região administrativa do Distrito Federal, Salles teve como principal referência a dinâmica urbana do espaço para criar os personagens das quatro tramas que compõem a série.
A partir daí, começamos a desenvolver os personagens. Fui para Brasília comprar e fazer uma pesquisa. Quando a gente sabe onde se vai passar a dramaturgia, viajo ao lugar para entender, observar e fotografas as pessoas que vivem lá.
Em Justiça 2, Silvana (Maria Padilha) dá uma moto nova para Balthazar (Juan Paiva)
Globo/Estevam Avellar
Durante a pré-produção, a primeira abordagem de Marie foi montar uma pirâmide e colocar no topo os personagem de nível social mais abastado, enquanto na base, os que enfrentavam uma realidade dura, marcada pelas consequências da pobreza. Então, apresentou ao diretor artístico, Gustavo Fernandez, situando em que ponto estavam cada um dos núcleos.
Geíza mata Renato
Balthazar (Juan Paiva) e Geíza (Belize Pombal), dois protagonistas que encaram uma vida difícil antes da cadeia e ainda mais severa depois, tiveram a classe operária como principal fonte de pesquisa para serem criados. Marie se baseou no trabalho de fotógrafos de Brasília que registram apenas pessoas na rua, indo e voltando do trabalho.
Em Justiça 2, Geíza (Belize Pombal) comete um crime para defender sua filha, Sandra (Gi Fernandes)
Globo/Estevam Avellar
“(São) Pessoas que não moram no Plano Piloto, moram fora, mas vão todos os dias para lá, trabalhar”, explica Marie, que comprou muitas das peças dos personagens em lojas populares de Ceilândia.
“No caso de Geísa, a cor também está ali. Ela usa rosa, amarelo e vai perdendo aos poucos. Sete anos depois, está sem cor. Começa a série com a vida, depois, vai perdendo. A Belize acabou de fazer a Quitéria em Renascer, é outra pessoa”, conta ela, que também trabalhou no figurino da atual novela das 9
Velha conhecida
À esquerda, Kellen em Justiça 2, situada em 2024; à direita, a mesma personagem, na primeira temporada da série, em 2016
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Única personagem que retorna da primeira temporada do projeto, Kellen, vivida por Leandra Leal, aparece com uma postura menos narcisista desta vez. Marie a idealizou de tal forma que o momento mais maduro da personagem, agora dona do próprio negócio, o bordel Las Primas, também se reflita em suas peças, mas sem abandonar o ideal apresentado lá em 2016.
Kellen e as meninas da Las Prima, sua agência de prostituição; figurino da personagem manteve os mesmos signos da primeira temporada, mas, desta vez, a retratando de forma mais madura
Globo/Bruno Stuckert
“A Kellen acabou a primeira temporada há sete anos. Essa personagem amadureceu. Continua com todos os signos feitos pela Natália e o Cao. Isso eu mantive porque é a personalidade da personagem: as onças, o couro, o brilho, o preto, a calça justa, as botas, as saias. Mas ela amadureceu”, detalha a figurinista.
Estampas e oncinhas e peças apertadas; figurino de Kellen continua com a mesma base da primeira temporada
Globo/Bruno Stuckert
“Virou uma mulher de negócios. Agora, tem uma agência de prostituição. Mas os signos todos continuam ali. Aliás, Cao e Natália, estão de parabéns, porque é uma personagem maravilhosa.”
Inclusive, Kellen é uma personagem que exerce influência na jornada de Carolina, papel de Alice Wegmann na história. A dobradinha dramatúrgica também aparece nas peças. Vítima de abuso do tio durante a adolescência, a contadora denuncia os crimes uma década depois, fazendo com que Jayme (Murilo Benício) passe sete anos na cadeia.
Em Justiça 2, Jayme (Murilo Benício) violenta Carolina (Alice Wegmann) em hospital
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Livre e com a mesma disposição de antes para prejudicar a vida da sobrinha, o criminoso obriga Carolina a tomar caminhos extremos, se aproximando do negócio de Kellen. Para Marie Salles, a personagem de Alice é uma das que exigiu mais esforços por parte do figurino.
Carolina (Alice Wegmann) embarca na prostituição; figurino foi baseado na influência de Kellen (Leandra Leal) nela)
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“Ela começa em tons pastéis, claros, porque já vem de um abuso. Mas não queríamos fazer essa conotação. ‘Ah, uma vítima se veste abusada se veste assim’. Ela é uma menina que se veste como alguém da idade dela. Sete anos depois, quando ela ainda não conseguiu sair daquele meio por conta da saúde da mãe, e ele aquele tio sai da cadeia, ela vai se transformando para ter a justiça dela”, explica a profissional.
Justiça 2: Kellen faz proposta para Carolina
“Já conseguimos ver uma mudança de comportamento e consequentemente de figurino sete anos depois, porque ela está básica, pouca. Então, há uma outra mudança na prostituição e tem muito a ver com a Kellen, porque, na minha cabeça e na do Gustavo, ela produz para ela e todas as meninas da Las Primas.”
Mulheres ricas
Jordana (Paolla Oliveira) e Silvana (Maria Padilha) retratam dois tipos diferentes de mulheres ricas brasilienses
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Uma personagem em que Marie encontrou muitas figuras reais enquanto pesquisava foi Silvana, a madame interpretada por Maria Padilha. Esposa do inescrupuloso Nestor (Marco Ricca), a dona de casa vive numa bolha de privilgégios, estourada ao reencontrar Balthazar, sete anos após ter mandado o jovem injustamente para cadeia. Mas, conforme tenta se emancipar da figura abusiva do marido, mais vítima dele se torna, encarando um cenário de violência doméstica.
Em Justiça 2, Nestor (Marco Ricca) e Silvana (Maria Padilha) acusam Balthazar injustamente pelo assalto ao restaurante
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“Eu vi muitas Silvanas em Brasília. Mulheres todas de rosa, verde água, azul bebê, hortênsia. Ficamos em um hotel em que ficavam algumas figuras políticas, então, às vezes, ficava só no hall, registrando”, se recorda Marie.
Justiça 2: Nestor dá um soco em Silvana
“A Silvana vem dessa pesquisa de Brasília. Ela vem de Brasília mesmo. Ela existe. Essa mulher conservadora, vítima de abusos, calada, que não consegue ver um palmo do que acontece à sua frente, só pensa em beleza, até que a casa cai. A maioria das peças dessa personagem eu comprei em Brasília, numa loja que mulheres ricas compram.”
Jordana, de certo modo, é um extremo oposto, mas ainda do mesmo lado da moeda – neste caso, o lado rico. Papel de Paolla Oliveira, a empresária do ramo da música é um dos principais nomes do cenário sertanejo, além de vir uma longa e milionária linhagem de fazendeiros. Assassina, é responsável por emplacar a carreira de Milena, que, por sua vez, foi a responsável por pagar pelo crime que ela cometeu.
Figurino de Jordana (Paolla Oliveira) é inspirado em mulheres poderosas do showbusiness, enquanto Milena (Nanda Costa) é uma cantora sertaneja
Globo/Bruno Stuckert
“A Jornada também foi a partir de muita pesquisa. Vou procurando a partir das redes sociais. Ela tem a ver com esse mundo do piseiro, essa ostentação. Muito ouro, brilho, couro e estampa”, define a figurinista.
Mulheres poderosas do showbusiness serviram de inspiração para Jordana, em Justiça 2
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“Ela é uma pessoa que marca presença, você presta atenção quando ela chega. São mulheres que a gente conhece do show business.”
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