Grife das gêmeas Olsen proíbe uso de celular em desfile e divide opiniões

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A The Row ofereceu bloco de notas para que os convidados fizessem suas observações; veja o que dizem estilistas e influenciadores Se houve um tempo em que as semanas de moda europeias eram frequentadas apenas pela nata da elite mundial, isso ficou no passado. Os eventos passaram a ficar cada mais abertos a receberem figuras populares do mundo inteiro e a internet diminuiu ainda mais as barreiras geográficas entre os interessados em assistir aos desfiles.
Mas na era das redes sociais, em que as quatro capitais da moda compartilham todos os acontecimentos das fashion weeks, a grife The Row saiu na contramão e proibiu o uso de celular em seu último desfile, que aconteceu no final de fevereiro durante a Semana de Moda de Paris.
Resumo da ópera
No lugar dos smartphones, os convidados tinham a opção de anotar suas observações em um bloco de notas disponibilizado pela marca. Vale ressaltar que a proibição valia, inclusive, para fotógrafos e qualquer profissional de audiovisual.
Portanto, quem assistiu ao show nada pôde registrar e quem ficou de fora ficou apenas na imaginação. Nem é preciso dizer que a decisão dividiu opiniões dos dois lados!
Grife das gêmeas Olsen proíbe uso de celular em desfile e divide opiniões
Reprodução/Instagram
Repercussão na internet
Muitos convidados, incluindo jornalistas de moda, ficaram frustrados por não poder tirar fotos ou gravar trechos da passarela, como foi o caso de Vanessa Friedman, editora do jornal “New York Times” e um dos nomes mais renomados do meio atualmente.
“Eu adoraria mostrar as fotos da The Row porque foi um desfile muito bom, mas, infelizmente, por causa da política de proibição de mídia social deles, eu não posso”, escreveu ela no X, antigo Twitter.
Mas para Beka Gvishiani, dono do Instagram Style Not Com, o veto não foi um problema incontornável. Famoso por suas publicações inconfundíveis de textos curtos em um fundo azul, ele fez posts cheios de descrições do evento, incluindo a foto do bloquinho deixado pela grife.
“Neste momento, estamos no desfile da The Row e, desta vez, eles baniram todas as câmeras para fazer vídeos ou fotos. Bem, sem problemas por mim, eu ainda consigo dar a notícia. […] The Row é o pão e a manteiga da moda mais chique”.
O perfil Style Not Com repercute proibição da The Row em banir uso de celular no desfile
Reprodução/Instagram
Conceito da grife
Primeiramente, é preciso lembrar que a etiqueta pertence às gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen: elas faziam sucesso nos anos 90 e 2000 como atrizes em filmes adolescentes, mas trocaram Hollywood pelas passarelas em 2006, quando fundaram a The Row.
The Row, grife das gêmeas Olsen, proíbe uso de celular em desfile e divide opiniões
Taylor Hill/FilmMagic
Em quase duas décadas da grife, as irmãs mantiveram uma vida bastante reservada e longe dos holofotes. Com suas roupas minimalistas, elas se consagraram como uma das grifes características da estética quiet luxury: roupas com visual mais neutro, casual e sem logos à mostra, ou seja, discreto na aparência, mas exorbitante nos valores.
Portanto, quem veste uma jaqueta de R$ 46 mil ou usa a icônica bolsa “Margaux” de R$ 35 mil da grife, não quer ostentar pelas ruas. Estes são “códigos” reconhecidos apenas por quem faz parte da minúscula parcela da sociedade que pode bancar por itens como estes: é isso que os classifica como “luxo silencioso”.
Bolsa “Margaux”, da The Row, avaliada em R$ 35 mil, é considerada a “nova Birkin da Hermés” devido à sua procura
Reprodução/Instagram
O que dizem os estilistas e influenciadores?
Tudo isso para dizer que de um lado do tribunal digital ficou o grupo que achou a decisão radical e elitista, por não permitir que mais pessoas assistissem ao desfile ou tivesse qualquer acesso ao que aconteceu sala adentro.
Do outro, ficou o grupo que viu neste movimento apenas um reflexo da mensagem que a grife quer passar: a falta de interesse em atingir um outro público além daquele que já é seu cliente. Essa, inclusive, é a opinião de Airon Martin, designer da Misci, que acredita que esta estratégia está alinhada aos valores da marca.
“Qual a pauta além da roupa e exclusividade? Para mim, a moda necessita trazer discussões políticas e sociais e não estar focada apenas no consumo e em quem pode consumir. Proibir celulares é algo inviável para um mercado tão complexo quanto nosso mercado brasileiro”, defende.
Desfile da Misci na Pinacoteca de São Paulo
Manu Scarpa/Brazil News
Weider Silveiro, que comanda sua etiqueta homônima, traz outra perspectiva sobre o assunto, que não está relacionada diretamente à logística de compra e venda de uma marca, mas que, de certa forma, estimula a propagar as ideias da marca e a criar desejo.
Acho que as redes sociais trouxeram um novo expectador para os desfiles, o expectador informante. Não sei se ele é o nosso principal alvo, mas não podemos negar o poder dele na divulgação e possível viralização do show! A atitude da The Row me faz lembrar de Cristóbal Balenciaga, quando ele impediu a imprensa de divulgar seus modelos como meio de evitar cópias. […] Mas, dentro do contexto em que vivemos, a atitude das Olsen me parece um tanto quanto irreal.”
Weider defende que, hoje em dia, é “praticamente impossível ter controle sobre as imagens que produzimos”. Mas para a designer Heloisa Strobel, da Reptilia, tratou-se da clássica psicologia reversa: aquilo que não é visto, gera curiosidade e discussões.
A The Row é uma marca que sempre prezou por não priorizar logomarcas e ações virais rápidas. Só que, nos tempos atuais, tudo que é viral é ‘multipropagado’ e torna-se um grande resultado para qualquer empresa. Acho que a ideia foi, justamente, criar esse buzz e funcionou. E não deixa de ser um gancho bem coerente com toda a imagem da marca: uma coisa levemente inatingível, para criar (ainda mais) desejo.”
Heloisa acredita, ainda, que isso tudo faz parte de um movimento para que a etiqueta deixe, cada vez mais, de ser a “marca das Olsen” para criar suas próprias narrativas, além de resgatar um cenário antigo da moda:
“Um momento mais contemplativo da moda, quando as imagens demoravam mais tempo para chegar ao público e, por isso, os desfiles tinham uma aura mais especial, que durava mais tempo. Isso foi há mais de 10 anos e foi um momento em que a moda era mais inacessível.”
Fefe Schneider
Reprodução/Instagram
Fefe Schneider fala para mais de 7 milhões de seguidores que acumula no Instagram. Criadora de conteúdo e influencer, ela entende o possível incômodo das Olsen em “terem vários celulares apontados para as modelos” durante o desfile. Por outro lado, ela está entre os que acredita que isso reconstrói uma parede, derrubada há anos, e que corta o acesso de outras pessoas interessadas espalhadas pelo mundo.
“Não acredito que gravar [o show] interfira, necessariamente, na atenção de quem está na plateia. Além disso, gravar ou fazer fotos dos desfiles também é uma forma de divulgar o trabalho da marca. […] As redes sociais são uma possibilidade para pessoas de diferentes lugares estarem presentes, mesmo que virtualmente. E se perde muito com isso, porque a coleção pode servir para inspirar artistas menores, que não teriam possibilidade de conferir pessoalmente.”
Céu e Júnior Rocha, que comandam a Meninos Rei, fazem coro à opinião de Fefe. E mais, para eles, cortar esse acesso é uma forma de segregar a sociedade.
“Sem dúvida nenhuma, foi uma ação radical e elitista da dupla. Acreditamos que a moda é uma ferramenta de transformação e projeção social. Tal atitude segrega, separa e segmenta. A tecnologia nos possibilita uma projeção mundial, dando assim visibilidade ao nosso trabalho e promovendo conexões.”
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