Justiça 2: como agir em casos de violência sexual contra menores

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Na série original do Globoplay, Carolina, personagem de Alice Wegmann, é vítima de abuso pelo tio, vivido por Murilo Benício Jayme assedia Carolina em seu escritório
* Alerta gatilho: esta reportagem retrata conteúdos sobre violência sexual que podem despertar diferentes reações no leitor.
Aos longos dos 28 episódios de Justiça 2, uma das tramas que cruza a série é o drama de Carolina, personagem vivida por Alice Wegmann, cujo passado não está tão atrás assim. Na adolescência, foi estuprada por dois anos pelo tio, Jayme, papel de Murilo Benício. Uma década depois, ao retornar para Ceilândia, a moça volta a ser vítima do criminoso; o episódio se torna a gota d’água e a jovem o denuncia. Assim, ele passa o período de sete anos preso.
Em Justiça 2, Jayme (Murilo Benício) violenta Carolina (Alice Wegmann) em hospital
Globo/Estevam Avellar
Para este núcleo, Manuela Dias, autora da empreitada, conta não ter se debruçado em nenhum caso específico, mas sim no panorama do país. “Me baseei na realidade infeliz que vivemos no Brasil e no mundo sobre abuso e violência contra a mulher, muitas vezes dentro de casa”, relata ela.
De fato, o drama da personagem reflete dados trágicos do cenário atual. Entre 2015 e 2021, foram registradas mais de 200 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes; 40%, cerca de 83 mil, em crianças; 119 mil, quase 60%, em adolescentes, de acordo com boletins do Ministério da Saúde.
Jayme ataca Carolina novamente
Justiça 2 aproxima ainda mais da realidade ao retratar o predador sexual na figura do tio que violenta a sobrinha e ainda vem ser o provedor da casa. Na faixa dos 10 aos 19 anos, em específico, 92,7% das vítimas são meninas, enquanto em 86% dos casos, o agressor é um homem e, tal qual na série, a maioria tem como agressor alguém da família – 58,4% dos crimes.
A personagem é vítima de um crime irreparável. Esse é um ponto fundamental sobre alguns crimes, nada do que a Justiça faça, mesmo que o criminoso seja punido, a ferida continuará lá. O tio vai preso, a mãe acaba se modificando profundamente e defende Carolina, mas nada apagará os dois anos de abuso que ela sofreu. Crimes assim, estabelecem um paradoxo sobre a Justiça, sobre a própria possibilidade de existir Justiça.
“Poder econômico é um pilar do exercício tanto da masculinidade como do machismo na nossa sociedade”, contextualiza a autora. “O abuso somado ao fato de o tio ser o provedor da família inteira gera uma sobreposição de poderes. A reação da família na série é revoltante. O pior é que ela está em consonância com o que vemos acontecer todos os dias.”
Murilo Benício comenta cena em que Jayme violenta Carolina
Como agir em casos de violência sexual
Jayme é preso após denúncia de Carolina
Formas de amparo às vítimas são um tema em constante discussão nas instâncias legais. Em dezembro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que aumenta o prazo de prescrição de crimes sexuais contra jovens. Antes, eram apenas três anos; agora, a partir do momento que a vítima completa a maioridade, ela tem até 20 anos para denunciar o abuso.
Titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), Fernanda Fernandes diz que são frequentes episódios no qual a família desacredita o jovem.
“(São) Muito comuns. Ou por quererem evitar um escândalo familiar ou por não acreditarem que uma pessoa próxima pudesse praticar abusos contra a criança”, explica a delegada. “O adulto tem o hábito de não validar o que a criança fala, acreditando que seja mentira ou o fato tenha sido fantasiado pela menor.”
Alice Wegmann lembra efeitos de cena em que revela estupro em Justiça 2
Para cenários no qual o predador é o principal provedor da residência, Fernandes reitera a importância de registrar o crime e solicitar medidas protetivas por meio da Lei Henry Borel e buscar a rede de apoio e proteção a vítima e sua família. Além disso, vale agir mesmo em casos que não sejam do próprio núcleo familiar.
“(É importante) Nunca duvidar da vítima, acolhê-la com carinho, sem questioná-la sobre o ocorrido. Procurar a delegacia mais próxima para registro e denunciar no conselho tutelar”, reitera a delegada.
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