Quem é Dick Wolf? Conheça ‘megaprodutor’ que criou ‘Law & Order’, ‘One Chicago’ e ‘FBI’

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O produtor bilionário é uma das figuras mais importantes dos bastidores da TV norte-americana nos últimos 30 anos Dick Wolf (centro) com o elenco de ‘Law & Order: SVU’
Reprodução/Instagram @dickwolf
Não é exagero dizer que Dick Wolf é um dos maiores magnatas do entretenimento televisivo que Hollywood já produziu.
Mesmo que você não ligue o nome a pessoa, quem consome séries de TV norte-americanas provavelmente já se deparou com alguns dos milhares de episódios que trazem as digitais do megaprodutor responsável pelas franquias “Law & Order”, “FBI” e “One Chicago”.
Elenco de ‘Law & Order: SVU’ e Dick Wolf celebram o lançamento da 20ª temporada da série em 2018
Reprodução/Instagram @therealmariskahargitay
Com obras que estão entre as mais longevas já feitas para a televisão e produções que se desdobram em múltiplos spin-offs, Wolf já usou uma metáfora do mundo do automobilismo para explicar o sucesso de suas séries, que dominam o horário nobre da TV aberta americana.
“Nós não fazemos Ferraris. Nós fazemos Mercedes Classe S. Eles são pretos. Eles não são chamativos. Mas eles rodam centenas de milhares de milhas. É para isso que eles são feitos”, já disse Wolf em entrevista para o The Hollywood Reporter.
Criador de histórias sobre detetives, advogados, bombeiros e policiais há décadas, conheça curiosidades da trajetória de Dick Wolf.
Dick Wolf foi um publicitário de sucesso antes de migrar para a Hollywood
Dick Wolf acompanhando as gravações da série ‘FBI’ em 2018
Reprodução/Instagram @dickwolf
Nascido em 1946, Dick Wolf é filho de um executivo judeu do ramo da publicidade com uma dona de casa católica de ascendência irlandesa. Em sua infância e juventude, frequentou algumas das melhores escolas dos Estados Unidos e chegou a estudar com George W. Bush, que viria a se tornar presidente do país.
Vale um parêntese: sua experiência em uma dessas escolas o inspirou a escrever do longa-metragem “Código de Honra” (1992), estrelado por Brendan Fraser e Matt Damon, sobre um aluno que precisa esconder que é judeu para não ser perseguido por colegas em uma instituição de ensino de elite.
Matt Damon e Brendan Fraser em ‘Código de Honra’ (1992), filme escrito por Dick Wolf baseado em elementos de sua biografia
Reprodução/IMDb
Sua trajetória profissional começou em Nova York, no mesmo setor que seu pai, quando Wolf começou a trabalhar como redator publicitário e logo se tornou um copywriter bem-sucedido, assinando mais de uma centena de comerciais de televisão entre as décadas de 1960 e 1970.
Quando completou 30 anos, a paixão pelo cinema falou mais alto e Wolf se mudou para Los Angeles em 1976 em busca de se tornar um roteirista em Hollywood. O instinto de publicitário, entretanto, nunca deixou o produtor. “O branding sempre foi o foco dos nossos programas. ‘Law & Order’, ‘One Chicago’ e ‘FBI’ são mais do que séries, são marcas”, avaliou o produtor em entrevista para a Variety.
Cachê de US$ 6.000 o fez rever ‘desdém’ pela TV
Antes de se estabelecer seu império na televisão, Dick Wolf conseguiu emplacar três roteiros em Hollywood ao longo de 10 anos. O primeiro filme foi o esquecível drama esportivo “Skateboard” (1978), que colocou a carreira do roteirista em modo de espera por alguns anos.
Cartaz original de “Atraído Pelo Perigo”, filme estrelado por Charlie Sheen com roteiro de Dick Wolf
Reprodução/IMDb
Em 1987 foi lançado o “Atraídos Pelo Perigo”, drama policial sobre um detetive infiltrado com Charlie Sheen no elenco que foi mal nas bilheterias, mas marca uma incursão de Wolf nas histórias sobre crime, tema que o consagraria no futuro. No ano seguinte, outro roteiro dele ganhou as telonas com o suspense “A Farsa” (1988), que une romance e mistério e traz Rob Lowe e Meg Tilly como protagonistas. O thriller chegou a receber algumas críticas positivas e teve um desempenho superior ao do filme anterior de Wolf.
A transição do cinema para a televisão surgiu quando Wolf foi convidado para trabalhar como roteirista na série policial “Hill Street Blues” (1981–1987), exibida no Brasil com o título “Chumbo Grosso”. Ele não gostava da ideia escrever para a TV, mas só aceitou o serviço por se tratar de sua série favorita.
“Hill Street Blues” (1981–1987)
Reprodução/IMDb
Após enviar seu roteiro, a agente de Wolf informou que o estúdio gostaria que ele se juntasse à equipe de roteiristas, mas ele se negou porque disse que “não queria voltar a trabalhar em um escritório”.
Em uma conversa por telefone, em viva-voz, a agente do produtor contra-argumentou: “Deixa eu te explicar. Eles vão te pagar US$ 6 mil por semana e, além disso, vão te pagar pelos seus roteiros também”. “Minha esposa na época se aproximou e disse: ‘Ele começa na segunda-feira”, recordou Wolf ao The Hollywood Reporter.
As origens de ‘Law & Order’
Sua experiência em “Hill Street Blues” abriu as portas para Wolf passar a atuar como co-produtor e roteirista de “Miami Vice” (1984 – 1990), outra série policial de sucesso da TV americana na época. A experiência o gabaritou a ambicionar voos maiores e o produtor ajudou a criar séries como “Gideon Oliver” (1989), “Christine Cromwell” (1989), “Nasty Boys” (1990) e “H.E.L.P.” (1990), mas nenhuma das produções se sustentou. Todas tiveram apenas uma temporada com poucos episódios.
Imagem de divulgação da terceira temporada de ‘Law & Order’
Divulgação/NBCU Photo Bank
O projeto que mudaria sua carreira veio logo em seguida, com o lançamento de “Law & Order”, primeira série de sucesso criada por Dick Wolf. A atração, de formato procedural, conquistou o público ao mesclar as dinâmicas da investigação criminal, sendo muitos episódios baseados em crimes reais, com os procedimentos legais envolvendo os suspeitos levados ao tribunal.
A série logo se tornou um fenômeno de audiência, com uma fórmula acessível e com arcos dramáticos que tem início, meio e fim dentro do mesmo episódio, podendo ser acompanhada até por espectadores casuais. “Law & Order” foi indicada 11 vezes consecutivas ao Emmy de melhor série de drama, entre 1992 e 2002, definindo um recorde a ser batido nesta categoria. Em 1997, a sétima temporada da série venceu a cobiçada estatueta da premiação conhecida como o “Oscar da TV”.
Tramas interligadas explicam sucesso de suas principais séries
Com 23 temporadas e quase 500 episódios, “Law & Order” ocupa atualmente o posto de segunda série live-action mais longeva da televisão americana, atrás apenas de “Law & Order: SVU”, spin-off sobre uma equipe de policiais que investiga crimes mais sensíveis, incluindo abuso infantil e violência sexual, que tem 25 temporadas e quase 550 episódios.
Imagem de divulgação da 25ª temporada de ‘Law & Order: SVU’, a série mais longa da franquia
Divulgação
Mas este é apenas um dos muitos desdobramentos que as séries mais populares de Dick Wolf tiveram. O produtor já comparou seu modelo de negócio com o de sopas enlatadas, uma vez que um consumidor que gostar de um sabor de sopa pode estar inclinado a gostar de outro da mesma marca.
“Ao usar essa comparação, quero dizer que espero que os espectadores estejam se sintam familiarizados com a marca e saibam que não importa o sabor da sopa que eles estão comprando ou a série que estão assistindo, eles estão recebendo um produto de qualidade”, comentou Wolf.
Mariska Hargitay, protagonista de ‘Law & Order: SVU’ que atuou em todas as 25 temporadas da série, e Dick Wolf
Reprodução/Instagram @dickwolf
A seguir, confira uma lista com todas as séries das principais franquias criadas pelo magnata da televisão. Em destaque estão as séries que ainda estão no ar.
Franquia Law & Order
Law & Order, Law & Order: SVU e Law & Order: Crime Organizado estão disponíveis no Globoplay
Divulgação
“Law & Order” (1990–2010; 2022–presente): 23 temporadas, 498 episódios
“Law & Order: Special Victims Unit” (1999–presente): 25 temporadas, 548 episódios
“Law & Order: Criminal Intent” (2001–2011): 10 temporadas, 195 episódios
“Law & Order: Trial by Jury” (2005–2006): 1 temporada, 13 episódios
“Law & Order: LA” (2010–2011): 1 temporada, 22 episódios
“Law & Order True Crime” (2017): 1 temporada, 8 episódios
“Law & Order: Organized Crime” (2021–presente): 4 temporadas, 62 episódios
A série ainda ganhou versões em outros países, sendo adaptada na França, Canadá, Rússia e Reino Unido. Há ainda um telefilme americano chamado “Exiled: A Law & Order Movie” (1998)
Franquia One Chicago
Universo ‘Chicago’: entenda as três séries da franquia e o que vem por aí em cada uma delas
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“Chicago Fire” (2012–presente): 12 temporadas, 248 episódios
“Chicago P.D.” (2013–presente): 11 temporadas, 217 episódios
“Chicago Med” (2015–presente): 9 temporadas, 172 episódios
“Chicago Justice” (2017): 1 temporada, 13 episódios
Franquia FBI
‘FBI’, ‘FBI: Most Wanted’ e ‘FBI: International’ formam a franquia FBI
Divulgação
“FBI” (2018–presente): 6 temporadas, 110 episódios
“FBI: Most Wanted” (2020–presente): 5 temporadas, 83 episódios
“FBI: International” (2021–presente): 3 temporadas, 53 episódios
Visão de negócios
Com essas três franquias, Wolf consegue dominar o horário nobre em dois dos principais canais da TV aberta americana.
Às terças-feiras, o canal CBS exibe os três programas da franquia “FBI”. Nas noites de quarta-feira, um bloco de três horas com as séries da franquia “Law & Order” domina a transmissão. Já às quintas, é vez do mesmo canal passar as três séries do universo One Chicago.
Há ainda os crossovers, episódios interligados que conectam personagens e eventos de uma mesma franquia e até de universos diferentes. Um incêndio criminoso enfrentado pela equipe de bombeiros de em um episódio de “Chicago Fire” pode dar início a uma investigação de combate ao abuso infantil conduzida em um capítulo de “Law & Order: SVU” e concluída em “Chicago P.D.”, já que todas as séries são exibidas pelo mesmo canal.
Danny Pino, Sophia Bush, Ice-T, Jesse Lee Soffer e Kelli Giddish em ‘Crossover Chicago’, episódio de 2014 que uniu equipes de ‘Law & Order: SVU’ e ‘Chicago: P.D.’ após eventos de ‘Chicago Fire’
Divulgação/NBCUniversal Media
Por vezes, esses eventos atingem até 10 milhões de espectadores nos Estados Unidos, sem contar com o público que consome a série no streaming ao redor do mundo. À Forbes, Wolf já declarou que o sucesso de suas séries o fazem acreditar que “a morte iminente da televisão aberta é exagerada”, mas prevê que um dia o streaming será o modelo dominante. “Acho que há mais 10-12 anos de televisão aberta antes de ser basicamente tudo streaming”, avalia.
Fortuna
Conforme a revista Forbes, a Wolf Entertainment, estúdio fundado por Dick Wolf em 1988 que produz as franquias “Law & Order”, “Chicago” e “FBI”, usa o apelo das atrações para firmar acordos muito lucrativos sempre que as obras são vendidas para redes como NBC, CBS, canais de TV por assinatura, mercados estrangeiros ou plataformas de streaming.
Dick Wolf com atores da franquia One Chicago
Reprodução/Instagram @dickwolf
Em 2020, a Wolf Entertainment teria firmado um acordo no valor próximo a US$ 1 bilhão, considerado um dos contratos mais caros da história da televisão americana. Com tantas receitas sendo geradas, Wolf se tornou uma das figuras mais ricas do showbusiness.
A Forbes estima que o magnata da televisão tenha uma fortuna de US$ 1,2 bilhão, que corresponde a R$ 6,14 bilhões na cotação atual, cifra que o situa próximo a Tyler Perry (US$ 1,4 bilhão) e Oprah Winfrey (US$ 2,8 bilhão), no ranking das figuras mais ricas da TV.
Produtora desenvolveu filme vencedor do Oscar
Em 2002, a Wolf Entertainment produziu o documentário “Twin Towers”. O filme aborda os atentados terroristas de 11 de setembro, que derrubaram as duas torres do World Trade Center, sob a perspectiva de dois policiais e um bombeiro de Nova York que atuaram nos resgates. A obra venceu o Oscar de melhor curta-metragem documental em 2003.
Literatura
Não são apenas bons contratos e roteiros que Wolf costuma assinar. O roteirista e produtor já publicou quatro livros. O primeiro deles, Law & Order: Crime Scenes, foi publicado em 2003 e é uma obra de não-ficção sobre o universo da série de TV policial.
Dick Wolf
Reprodução/Instagram
Os demais formam a trilogia de romances policiais The Intercept, The Execution e The Ultimatum, que acompanham Jeremy Fisk, um detetive da polícia de Nova York.
“Quem diz que são escritas iguais está mentindo. As telas têm escalas diferentes”, comentou Wolf ao falar sobre o processo de escrita de seus romances em entrevista para o USA Today. “Já escrevi roteiros para o cinema e são como grandes pinturas. Episódios de séries são como pinturas menores e romances são como o teto da Capela Sistina. É uma tela muito maior.
Prêmios
Dick Wolf foi indicado ao Emmy em 14 ocasiões e levou para casa a estatueta em duas ocasiões, ambas por seu trabalho como produtor. A primeira foi em 1997, quando “Law & Order” venceu o prêmio de melhor série de drama. O segundo reconhecimento veio em 2007, quando o drama histórico “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”, sobre a perseguição sofrida pela população indígena dos Estados Unidos na expansão do território do país para o oeste, venceu o Emmy de melhor telefilme.
O megaprodutor e roteirista também tem uma estrela na Calçada da Fama em 2007 e entrou para o Hall da Fama da Academia de Televisão em 2013. Ele também tem duas indicações ao WGA Award, prêmio do síndicato dos roteiristas.
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