Rua das Noivas: endereço icônico de São Paulo busca recuperação de crise pós-pandemia

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No mês das noivas, gshow foi à Rua São Caetano, principal ponto de lojas de trajes de casamento da capital paulista, que nos últimos anos vem registrando queda no fluxo de clientes Rua das Noivas: endereço icônico de São Paulo busca recuperação de crise pós-pandemia
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No entorno da Estação da Luz, Museu da Língua Portuguesa e Pinacoteca está a Rua São Caetano, mas talvez os paulistanos a conheçam como Rua das Noivas. O endereço, inaugurado em 1802, se tornou a maior referência em São Paulo para quem sonha em dizer “sim” no altar.
Ele é um dos trechos que integra os quase 20km² do Circuito das Compras, projeto que nasceu em 2010 com o intuito de revitalizar o Centro da cidade. A região também engloba as famosas ruas 25 de Março e Santa Efigênia e os bairros Bom Retiro, Liberdade e Brás.
O que tem por lá?
Apesar do endereço bicentenário, foi apenas na década de 60 que o comércio deu os primeiros sinais do que ele se tornaria. As poucas lojas de calçados foram ganhando “concorrentes” aos poucos até chegar aos quase 200 estabelecimentos.
São mais de 700 metros com vitrines abarrotadas de vestidos para noivas, madrinhas, daminhas, debutantes e trajes para noivos, pajens e padrinhos, além de itens para decoração, tecidos, calçados e lembrancinhas.
Concertos ao vivo, cavalos paramentados e profissionais oferecendo todo tipo de serviço, como fotografia e aluguel de carros, podiam ser encontrados aos sábados ao longo da rua. Isso antes da pandemia.
Diretor do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista do Comércio de São Paulo conta como a região está se recuperando da crise
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A crise
De acordo com um levantamento pré-pandemia da APECC (Associação Paulista dos Empreendedores do Circuito das Compras), ao menos 15 mil pessoas cruzavam a rua diariamente em busca do vestido e adereços perfeitos para o grande dia.
Ainda em 2016, um levantamento feito pelo G1 em parceria com o “Bom Dia São Paulo” mostrou que o setor começava a enfrentar as primeiras crises financeiras. Alguns lojistas relataram uma queda de até 80% no faturamento, além das mais de 100 demissões no período de um ano.
Mesmo após o período da quarentena e o retorno ao “novo normal”, essas atividades externas da Rua São Caetano ficaram apenas na lembrança de quem estava prestes a subir ao altar.
E não foi apenas isso que mudou, o comportamento de compra também sofreu uma reconfiguração. Segundo relatório da Neotrust, os e-commerces tiveram um faturamento de R$ 161 bilhões em 2021, um aumento de 26,9% em comparação ao ano anterior. Deste montante, 58,4% das compras foram feitas por mulheres e R$ 895 milhões correspondem ao setor de moda.
Recuperação planejada
Apesar disso, Walter Luiz Gomes Júnior, diretor do Sindilojas-SP (Sindicato do Comércio Varejista e Lojista do Comércio de São Paulo), afirma que “o ramo é pouco afetado pelo mercado on-line”, uma vez que os noivos precisam ir até a loja para fazer as várias provas de roupa.
Segundo ele, o comércio do Circuito das Compras está se recuperando dos efeitos da pandemia e cita que projetos de revitalização e segurança estão sendo estudados para tornar o local “pulsante, iluminado e seguro” novamente, além de contarem sempre com novas coleções de roupas de festas e expansão de lojas. “Muitas vezes nosso grupo amplia seu faturamento em 20% a 30%”.
“A pandemia impactou de várias formas. Além do fechamento das lojas e do nosso faturamento ser derrubado a 20% do que tínhamos pré-pandemia, tivemos muitos cancelamentos de casamentos por diversos motivos, como falecimento de familiares próximos e até mesmo de um dos noivos. Outros por perder renda, emprego ou apenas por incerteza. Hoje estamos contentes, pois já no segundo ano pós-pandemia nos vemos superando faturamentos mensais da pré-quarentena”, afirma.
Do ateliê para o altar
Thomn Fellix tem 57 anos e há mais de 30 confecciona sonhos em forma de vestidos de cetim, tule, renda e o que mais as noivas desejarem. Ele começou a trabalhar na Rua das Noivas em 1992, mas não é por esse motivo que ele diz não se lembrar da primeira peça que criou: “São inúmeros [vestidos] e um fluxo absurdo de noivas, são cerca de 300 por mês”.
Designer fala sobre os efeitos da pandemia no faturamento e movimentação do comércio na Rua das Noivas
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O número, no entanto, não aumenta mais em maio como antigamente. Ele aponta que, por questões financeiras e climáticas, setembro se tornou ao longo dos anos o novo “mês das noivas” no Brasil: durante a primavera, o clima é mais ameno, tem menor probabilidade de chuva e é quando as pessoas começam a receber o 13º salário.
“A noiva ficou mais prática e objetiva, e maio não é um mês satisfatório, pensando no lado financeiro e porque estamos entrando no inverno. Mas a quantidade de casamentos em setembro é assustadora! E aí vai de setembro até dezembro. Na primeira quinzena do mês encerra-se o ciclo de casamentos no ano”, analisa.
Em três décadas de ateliê, Thomn também observou as mudanças acontecendo na região durante a pandemia. Ele relembra que as lojas fecharam as portas na quarentena e, quando reabriram, os profissionais que ofereciam diferentes serviços de eventos nas ruas não retornaram, incluindo os músicos que faziam apresentações ao vivo.
“[A rua] fervia mais, pulsava mais! Eu acredito que eles devam ter achado uma forma mais efetiva de divulgar o trabalho deles, porque nunca mais tivemos pessoas nem interessadas em fazer esse tipo de trabalho novamente.”
Para resgatar um pouco dessa essência, a loja em que ele trabalha cede o espaço, aos sábados, para uma banda se apresentar enquanto as noivas provam os vestidos – que podem custar até R$ 30 mil.
E o que influencia nesses valores? O tipo de tecido, a tecnologia usada para criar determinados materiais, se possui pedrarias, bordados ou se é o primeiro aluguel: “A mão de obra e o maquinário são caros, 90% do material é importado. Um vestido com alfaiataria requer uma construção mais elaborada, tudo agrega valor”, explica Thomn.
São tantos detalhes que, para se fazer um vestido do zero, ele sugere fazer a encomenda com ao menos um ano de antecedência – apesar de ser menor a procura por vestidos novos: “Tem noiva mais ansiosa que quer resolver o mais rápido possível, ela já tira isso do caminho. Mas se é uma noiva mais tranquila, ela deixa para comprar seis ou oito meses [antes do casamento]”.
Amanda* se enquadra neste segundo grupo. Ela se casa em cinco meses e está “correndo contra o tempo” para encontrar o vestido perfeito. Pedida em casamento no começo de 2023, a enfermeira confessa que focou mais na decoração e nos detalhes da cerimônia:
“Quando percebi, a data já estava aí batendo à porta [risos]. Agora resolvi trazer minha mãe e minha irmã, porque elas já falaram que só vão me deixar ir embora com o vestido comprado. Era o sonho da minha mãe que as filhas comprassem o vestido de casamento aqui [na Rua das Noivas], então quem sabe eu não realize, né?”
Amanda explica que a cerimônia acontecerá durante o dia em um salão com área externa. Exigente e discreta, ela define que o look dos sonhos “não é básico demais e nem espalhafatoso”: “Quero estar linda, claro, mas não quero, e nem posso, gastar rios de dinheiro. Acho que o mais importante é que a cerimônia fique perfeita e que as pessoas que eu amo estejam todas lá”.
*O nome foi alterado a pedido da entrevistada para preservar sua identidade.
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