Demência e sexo: uma discussão que todos preferem evitar

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Psicóloga norte-americana afirma que situação é desafiadora e que instituições rejeitam a sexualidade dos idosos, preferindo ignorar o assunto. A psicóloga clínica e gerontóloga Regina Koepp tem 20 anos de experiência com idosos e não tenta se desviar de temas espinhosos. Um deles é o sexo na velhice, assunto que continua a ser tabu nos consultórios. Em seminário que acompanhei on-line, ela afirmou que uma pesquisa nacional realizada pela Universidade de Michigan, com pessoas entre 65 e 80 anos, mostrou que 67% se mantinham interessadas em sexo e 73% estavam satisfeitas com sua vida sexual. No entanto, apenas 17,3% haviam tratado da questão com seus médicos e, quando isso ocorria, a iniciativa tinha partido dos pacientes em 60% das situações. Lamenta que, mesmo diante de uma nova configuração da sociedade – repaginada com o bônus da longevidade – os estereótipos imperem:
Sexo e demência: “pode haver consentimento quando alguém tem sua autonomia para decidir afetada?”, questiona psicóloga norte-americana
Husky Herz para Pixabay
“O número de divórcios nessa faixa etária triplicou e as infecções sexualmente transmissíveis deram um salto. As pessoas não deixam de fazer sexo, apesar da crença de que a sexualidade perde importância na velhice. Espera-se que os mais velhos sejam assexuados. Pior: considera-se anormal que eles se interessem por sexo.”
Entretanto, a idade ou mesmo o declínio cognitivo não eliminam a necessidade de afeto e intimidade, e tudo fica mais complexo quando há um quadro de demência:
“A situação é muito desafiadora, porque é preciso equilibrar questões difíceis: pode haver consentimento quando alguém tem sua autonomia para decidir afetada? Mas, e se houver uma conexão entre as pessoas, e essa intimidade trouxer prazer e alegria?”, instiga.
Koepp conta que, em 2015, um caso emblemático mobilizou os EUA. Uma idosa com demência teve que ir para uma instituição porque o marido não conseguia cuidar dela sozinho. Os dois tinham se casado já perto da faixa dos 70 anos – era a segunda união de ambos – e ele a visitava com frequência. Nesses encontros, havia momentos de intimidade sexual, cujos sons eram objeto de reclamação da companheira de quarto da mulher (apenas uma cortina separava as camas). A filha da idosa, que se tornara sua guardiã legal, processou o marido da mãe, acusando-o de estupro e o impedindo de visitá-la. No fim, o homem foi inocentado, mas não teve mais chances de ver a esposa, que morrera antes do julgamento.
“Os serviços de saúde pública e as instituições de longa permanência não querem ter tal discussão, o que mostra o etarismo estrutural no qual vivemos. Para a comunidade LGBTQIA+, é ainda mais grave: 78% voltam para o armário, para não sofrer com a discriminação de funcionários e dos outros residentes”, critica.
Na palestra, a psicóloga também enumerou os muitos benefícios da atividade sexual, o que só reforça que não devemos abrir mão do prazer. Reproduzo somente parte da lista: o cérebro libera dopamina, um dos “hormônios da felicidade”, durante o orgasmo; há um aumento da produção de oxitocina, que promove um sentimento de bem-estar; melhora a autoestima e diminuem os sintomas de depressão. E a terapeuta arremata: “quem faz sexo frequentemente tem um desempenho melhor em testes cognitivos”.
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