Dengue: é possível saber quando a doença terá trégua nos casos?

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País já ultrapassou a marca de mil mortes pela doença apenas nas primeiras 13 semanas de 2024. Infectologista cita condições para diminuição das infecções. Mosquitos Aedes aegypti
REUTERS/Agustin Marcarian
A possibilidade de uma epidemia de dengue em diversas regiões do Brasil começou a ser levantada por especialistas ainda em 2023 e, desde o início deste ano, isso vem se confirmando.
Na última quarta-feira (3), o país ultrapassou a marca de mil mortes pela doença apenas nas primeiras 13 semanas de 2024. O número já é um dos maiores de toda série histórica, que começou em 2000.
Como efeito de comparação, no mesmo período do ano passado, em três meses, o Brasil tinha 388 mortes.
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Para entender o surto de casos e tentar projetar como serão os próximos dias e meses, o g1 conversou com a médica infectologista Silvia Fonseca.
Veja abaixo perguntas e respostas:
Por que tantos casos e mortes?
As crianças estão mais vulneráveis?
Por que controlar o mosquito é tão difícil?
Quanto tempo levará para os casos darem trégua?
Qual é a melhor solução?
🏥 Por que tantos casos e mortes?
Segundo a infectologista, o número elevado de mortes está diretamente relacionado ao de infecções, que também está em alta.
Nas primeiras 13 semanas deste ano, 2,6 milhões de casos foram registrados no Brasil, enquanto que em 2023, no mesmo intervalo de tempo, houve 589.294 registros.
“A gente já teve muitas mortes neste ano, então tem realmente um número bem aumentado de casos, que não só o número absoluto de mortes vai ser maior, mas também porque o serviço de saúde se desorganiza”, diz.
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👦 As crianças estão mais vulneráveis?
Na percepção de Fonseca, que atua na área da pediatria, as crianças estão, sim, mais vulneráveis à dengue, devido à incidência de casos mais graves entre elas.
“A gente tem visto cada vez mais casos pediátricos, e casos com gravidade, a ponto de serem hospitalizados. A suspeita que eu tenho é de que as crianças estejam tendo a sua segunda dengue, porque a gente sabe que a primeira infecção pode até passar desapercebida, mas a segunda, normalmente, é a que traz mais gravidade. Tenho visto muitas crianças internadas.”
Diante disso, ela considera que a decisão do Ministério da Saúde de vacinar primeiro a faixa etária de 10 a 14 anos é correta.
Família espera atendimento do lado de fora de um hospital de campanha temporário para o tratamento de pacientes com dengue
AP Photo/Eraldo Peres
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⌛ Quanto tempo levará para os casos darem trégua?
O verão costuma ser a época de maior incidência do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Apesar disso, especialistas explicam que, mesmo após o fim dele, os casos da doença tendem a continuar elevados por um tempo.
Isso ocorre, segundo eles, por conta do tempo entre o mosquito ficar infectado, picar o ser humano, e o ser humano começar com os sintomas.
No entanto, nesta semana, o Ministério da Saúde afirmou que a maioria dos estados brasileiros já superou o pico de casos da doença.
A médica infectologista pondera ser difícil projetar até quando o surto continuará, mas destaca que o segredo está no controle dos mosquitos, além da diminuição dos dias quentes e chuvosos.
“Não sei quanto tempo mais vai durar, porque não sei quanto tempo mais vamos ter esses dias quentes com chuva. O determinante para o tamanho da epidemia é a quantidade de mosquitos e a quantidade de [pessoas] suscetíveis, que não têm anticorpos. A gente não sabe quanto tempo mais vamos ter.”
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🦟 Por que controlar o mosquito é tão difícil?
Cidades que conseguiram diminuir a incidência do mosquito, de fato, mostram um cenário epidemiológico mais controlado, como Santa Rosa de Viterbo (SP), no interior de São Paulo, que instalou armadilhas pelo município para atrair o inseto – entenda aqui.
Silvia Fonseca reconhece que a estratégia pode ser um diferencial no combate à dengue. Por outro lado, afirma que esse tipo de técnica é, por enquanto, restrita a somente algumas cidades e que os mosquitos estão cada vez mais adaptados às condições urbanas.
“O controle do mosquito é muito difícil. A gente tem muitos resíduos, uma urbanização caótica, então fica difícil controlar um mosquito que gosta desse cenário, ele se adaptou muito bem ao nosso lixo urbano. Tenho ouvido dos especialistas que eles [mosquitos] estão se amadurecendo mais rapidamente do que no passado, então a população de mosquito está crescente.”
Vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti
GETTY IMAGES via BBC
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💉 Qual é a melhor solução?
Para a médica, o cenário atual se assemelha ao da febre amarela, por isso, na visão dela, a melhor solução está na vacinação. A campanha, no entanto, ainda caminha a passos lentos no país.
Até a última semana, 1.235.119 doses haviam sido distribuídas aos estados e DF desde o início da campanha. Deste quantitativo, 534.631 foram aplicadas e 700.488 não foram registradas (ou seja, podem não ter sido aplicadas ainda ou, por lentidão do município, não ter entrado no sistema).
“A nossa saída é a vacina, como foi com febre amarela, que teve epidemia muito parecida, em que muita gente só tinha uma febre, quase nada, mas algumas pessoas tinham um quadro grave e morriam. A gente controlou isso, basicamente, com vacina, então eu acho que vai ser a saída da dengue”, complementa.
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Dengue: veja o que é a doença e quais são os seus sintomas
Arte g1/Dhara Assis
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