Entenda o porquê mais crianças estão sendo infectadas por dengue na região de Piracicaba

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Estudo conduzido pela Fiocruz constatou que menores de 5 anos contraem a doença em sua forma mais grave e com taxa de letalidade maior, mas maioria dos pacientes infantis tem entre 10 e 14 anos. Criança doente, criança gripe
Freepik
👶O número de crianças e adolescentes infectados por dengue cresceu neste ano: considerando as três maiores cidades da região de Piracicaba, os registros foram de 51 para 185 casos da doença em pacientes de até 14 anos.
O aumento percentual considerando os dados fornecidos pelas prefeituras de Piracicaba, Limeira e Santa Bárbara d’Oeste é de 409.8%. 📈 E essa alta não é uma particularidade da região: a mudança no perfil da doença em 2024 foi constatada em um estudo conduzido pela Fiocruz divulgado neste mês.
Letalidade da dengue entre crianças
Jornal Nacional/Reprodução
🚨 Segundo o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da instituição, a faixa etária mais afetada pela dengue neste ano é a dos 10 aos 14 anos. No entanto, crianças de até 5 anos são as que mais contraem a doença em sua forma mais grave e tem as maiores taxas de letalidade.
Ano passado, nenhuma criança desta faixa etária foi internada com dengue em Piracicaba, Limeira e Santa Bárbara. Já neste ano, até março, são nove casos de hospitalização em menores de 5 anos.
Entenda o motivo 🩺
O doutor Hamilton Bonilha, infectologista do Instituto de Vacinação e Infectologia de Piracicaba acredita a maior letalidade em crianças pequenas em 2024 ocorra por três motivos:
sistema imunológico ainda imaturo,
dificuldade de diagnóstico devido a maior frequência de outras doenças virais comuns na infância, além da dificuldade das crianças em relatar aos pais os sintomas,
provável circulação do sorotipo 2 do vírus.
🦠O médico explica que o sorotipo 2 circula na região há cerca de três anos e tem maior propensão a causar casos mais graves de dengue. Para Bonilha, a melhor saída para conter a evolução da doença é a vacinação.
A Qdenga, vacina produzida pelo Instituto Butantan, é a aposta para conter o aumento dos casos de dengue em todo o Brasil. 💉
“Apesar de quantidade ainda insuficiente para atender a demanda, a vacina contém elementos dos 4 sorotipos num arcabouço do sorotipo 2 atenuado. Isso propicia uma maior eficácia contra este sorotipo, que parece se apresentar com maior gravidade”, explica o médico.
🧪A técnica utilizada na confecção da vacina usa o vírus do sorotipo 2 enfraquecido para que ele não cause a doença, mas, ainda assim, estimule uma resposta imunológica eficaz no organismo para que ele seja capaz de conferir imunidade ao paciente caso haja infecção provocada pela dengue.
Para Bonilha, o estudo da Fiocruz reforça a importância do imunizante na luta contra a doença. 🦟
“Corrobora-se para uma reflexão sobre a necessidade imediata de se recomendar a ampliação da imunização para crianças acima de 4 anos, conforme recomendação em bula pela Anvisa. E também da conscientização dos pais quanto a importância da eliminação dos criadores domiciliares do mosquito, uso de repelentes, roupas de cores claras e adesão a vacinação”, diz Bonilha.
Aumento de internações 🏥
Das 9 crianças internadas pela dengue na região até março de 2024, 5 estão em Piracicaba e 4 em Limeira. A metrópole não forneceu dados sobre internações em menores dos 5 anos, apenas em relação à faixa etária dos 10 aos 14 anos.
Já em Limeira, a criança hospitalizada mais velha tem apenas 1 ano. Confira:
.1 criança de 1 ano
1 criança de 10 meses
1 criança de 8 meses
1 criança de 3 meses
Apesar do aumento das internações, a parcela infantil dos pacientes infectados por dengue é pequena em relação ao total de casos considerando todas as faixas etárias: tanto em Piracicaba quanto em Limeira, ela representa 6% dos registros da doença.
Santa Bárbara não informou o percentual infantil em relação ao total de pacientes. Em nota enviada ao g1, a prefeitura de Piracicaba relacionou aumento de casos em crianças com o aumento de casos na população geral. 🪰
“O Centro de Vigilância em Saúde (Cevisa) esclarece que no ano de 2024 houve um aumento significativo da incidência da dengue na população em geral e, consequentemente, esse aumento também se refletiu no número de casos entre as pessoas de 10 a 14 anos. Ainda assim, esses casos representam 6,13% do total de casos, não sendo o principal público atingido no momento pela doença”, diz o texto.
Letalidade da dengue é maior entre crianças de até 5 anos
🧪Entenda o estudo da Fiocruz
O levantamento realizando pelo Observatório de Saúde na Infância da Fiocruz/Unifase revelou que a dengue tem atingido com maior gravidade crianças até 5 anos em 2024.
A análise também mostra que crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos apresentam o maior número de casos infantis este ano, enquanto crianças com menos de 5 anos tem as maiores taxas de letalidade. Em seguida, vem a faixa etária dos 5 aos 9 anos.
O estudo foi feito a partir de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde das 10 primeiras semanas epidemiológicas deste ano, ou seja, até o dia 9 de março.
📈 Incidência de casos por faixa etária até os 14 anos
O levantamento aponta a notificação de 239.402 casos de dengue em crianças de até 14 anos, divididos da seguinte forma:
41,8% em crianças e adolescentes dos 10 aos 14 anos,
33,7% em crianças dos 5 aos 9 anos,
24,5% em menores de 5 anos.
Apesar dos pequenos de até 5 anos representarem a menor parte dos casos, quando é observada a letalidade, a situação se inverte. Até o dia 9 de março, o Brasil registrou 52 óbitos de meninos e meninas de até 14 anos, sendo 16 confirmados em 36 em investigação. A distribuição por faixa etária é a seguinte:
44,2% das vítimas tinham menos de 5 anos,
32,7% das vítimas tinham entre 5 e 9 anos,
23,1% das vítimas tinham entre 10 a 14 anos.
A tendência, segundo o observado pela Fiocruz, é “uma gradativa diminuição da proporção de óbitos com o aumento da idade”.
📈 Taxa de letalidade a cada 100 mil casos
Outro ponto destacado pelo Observa Infância é que a taxa de letalidade, considerando todos os casos de crianças entre 0 a 14 anos, é de 6,7 óbitos para cada 100 mil casos de dengue.
No entanto, o índice para os menos de 5 anos é 15,7, cinco vezes superior em comparação a taxa de letalidade da faixa dos 10 aos 14 anos (3,0 a óbitos a cada 100 mil casos da doença).
Já o grupo de 5 a 9 anos tem a taxa de letalidade 1,8 vezes maior que a registrada entre os de 10 a 14 anos, com um índice de 5 mortes a cada 100 mil casos de dengue.
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