Ex-joia revê Corinthians, lembra treta com zagueiro e explica falta de chances: “Não treinava 100%”

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Aos 28 anos, Marciel enfrenta Timão pelo Santo André após rodar o Brasil; volante ficou marcado por golaço em estreia, soco de Vilson, estresse e displicência: “Ninguém me deu um toque” Entrevista exclusiva: Marciel relembra época de Corinthians
De grande promessa a mais uma joia que não vingou pelo Corinthians, Marciel reencontra neste sábado o time que o projetou para o futebol brasileiro, em jogo do Campeonato Paulista. Hoje no Santo André e com a experiência de quase 30 anos (tem 28), o meio-campista será rival, mas voltará à Neo Química Arena, onde teve uma estreia perfeita que poderia ter sido o prenúncio de glórias.
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Afinal, não poderia ter sido melhor. Marciel jogou pela primeira vez no profissional em 2015, sob o comando do técnico Tite, e foi autor de um golaço que abriu o placar na Arena Corinthians em vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro (veja no vídeo abaixo).
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Com uniforme em homenagem à base, Corinthians vê Marciel marcar na vitória sobre o Flu
– Nem eu acreditei que tinha feito um gol, pode ver pela comemoração que eu não estava acreditando. Receber aquela oportunidade acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
Por ter vindo da base e ser muito pedido pela torcida alvinegra, o jogador conta que nunca sentiu muita pressão ao jogar pelo time e focava em fazer a parte dele, que era jogar futebol. Ele fez parte do elenco campeão brasileiro de 2015, mas viu a carreira desandar pouco depois, numa trajetória que teve até briga em treino com o zagueiro Vilson.
– Foi algo que aconteceu ali na hora, eu acho que ele foi treinar de cabeça quente. Acabou que eu roubei uma bola dele, ele já virou bravo. Mas na hora ali mesmo eu aceitei a desculpa. Não levei nada para fora de campo e a gente seguiu junto ali até o final do campeonato.
Mesmo tendo se destacado desde cedo e colecionado boas atuações, Marciel foi emprestado ao Cruzeiro e diz que, sabendo que não teria muita oportunidade, ele mesmo optou por sair. Depois do primeiro empréstimo, rodou por clubes como Ponte Preta, Oeste, Vitória, Água Santa e Juventude. Antes de chegar ao Santo André, o volante ainda defendeu Náutico, Remo, Caxias e CSA.
Marciel comemora gol anotado pelo Corinthians
Daniel Augusto Jr / Agência Corinthians
O motivo de tantas reviravoltas, Marciel sabe bem. Mais maduro, ele explica (e entende) por que não teve sequência maior no Corinthians mesmo sendo uma das grandes revelações da época – campeão da Copinha em 2015, era tratado como o nome “mais pronto” de uma geração que tinha joias do quilate de Guilherme Arana, Maycon e Malcom.
– Eu achava que eu era melhor que um e que outro e acabava treinando pouco. Não treinava 100%, treinava 70%, 80% e acabou que não deu certo, é isso o que bate o arrependimento hoje – reflete Marciel, em entrevista exclusiva ao ge.
– Ninguém me deu um toque. O único que falava para nós era o Ralf, que dizia para a gente treinar “para a gente”. Mas entrava por um ouvido e saía pelo outro – acrescentou.
Os tempos de Corinthians ainda trouxeram uma questão delicada, mas cada vez mais comum no futebol de alto nível. Marciel sofreu um problema de alopecia areata, consequência do estresse e quadros de ansiedade que vivia e mal percebia.
Segundo o jogador, a condição veio “do nada” e foi percebida quando as falhas no cabelo começaram a aparecer. O diagnóstico foi feito pelo próprio Corinthians, que indicou ao meia uma clínica para fazer o tratamento.
Na época, o meio-campista fez uso de corticoide e ficou afastado durante cinco meses.
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Marciel durante treino pelo Corinthians: ele sofreu com alopecia areata e usou touca em treinos
Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians
– Eu só fui fazer o tratamento e achei que o Corinthians já estava sabendo. Aí cheguei lá depois, mostrei o papelzinho, tinha corticoide, e acabou que fiquei afastado. Acredito que não foi na maldade, acho que a doutora que aplicou não estava sabendo.
Além disso, Marciel contou que, apesar do diagnóstico específico de estresse e ansiedade, nunca chegou a passar por um acompanhamento psicológico. Também acrescentou que não faz nenhum tratamento atualmente.
Vilson dá soco na cara de Marciel durante treino no Corinthains
Veja a entrevista completa com Marciel:
Sobre o empréstimo para o Cruzeiro, você acha que foi a decisão certa por parte do treinador? O seu plano na época era ficar no Corinthians?
– Querendo ou não a estreia foi maravilhosa, né? Não podia ser melhor, era aniversário do Corinthians e poder fazer um gol foi inacreditável. O empréstimo acho que foi consequência, né? Eu não tive muita oportunidade, apesar de ter feito gol e tal, mas o meio campo tinha muitos caras de seleção e acabou que houve um empréstimo em troca com o Willians, no Cruzeiro. Eu mesmo quis sair também na época, porque eu sabia que eu não ia ter muita oportunidade. Na minha época a gente não tinha muita oportunidade, quem teve mais acho que foram o Malcom e o Arana. A gente que subiu depois não teve muita oportunidade para mostrar o nosso futebol.
Como foi lidar com a ascensão tão meteórica do começo? Foi difícil manter os pés no chão?
– Então, depois dessa estreia nem eu acreditei que eu tinha feito um gol, pode ver pela comemoração que eu não estava acreditando que eu tinha feito um gol, e receber aquela oportunidade acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. O clube também, por ser o Corinthians, todas as histórias que o Corinthians tem, foi muito gratificante isso na minha vida.
Foi difícil encarar a pressão que é jogar no Corinthians e a repercussão que é jogar no Corinthians, sendo tão jovem?
– Na minha parte não tinha muita pressão. Até porque, como eu vim da base, a torcida gostava da gente. A pressão não vinha muito em cima da gente, ia mais em cima dos veteranos, dos caras que já estavam há mais tempo. A gente só tinha que fazer a nossa parte, que era jogar futebol.
Marciel, ex-Corinthians, comenta sobre as oportunidades na base e seu crescimento no time
O torcedor do Corinthians lembra muito daquele time de 2015, que encantou muito. Tem alguma lembrança do bastidor daquele Corinthians que até hoje você revive e dá risada?
– O Jadson era o mais resenha do grupo, toda vez eu lembro dos vídeos que o Jadson fazia zoando todo mundo. Aquele cara lá é sensacional. Tem um vídeo que eles fizeram tipo BBB, fazendo um vídeo, votação e tal. Esse vídeo acho que tem no YouTube. Foi o time mais entrosado na minha carreira. A gente era entrosado demais, dentro e fora de campo. Era um grupo parceiro mesmo e tudo o que a gente convivia, a gente fazia dentro de campo.
Foi por isso que esse Corinthians de 2015 deu tão certo? Essa relação entre vocês foi um dos segredos para esse time ter dado tão certo?
– Não tinha como não dar certo. Até nós que subimos da base, os caras abraçaram, trataram a gente super bem desde o começo da temporada. Acho que é isso que é fundamental para as coisas terminarem bem no final do ano. O Ralf era um cara que incentivava a gente em todos os treinos. Mesmo estando mal, qualquer dia que a gente estava de cabeça quente, ele falava “não, vambora, treina, treina que é para você. Não é para o treinador, não é para ninguém, é para você, para sua família”.
– Ele é especial, ele é f…, ele é demais. Todos que subiram ele tratava do mesmo jeito, é um cara fora de série. Um dos mais importantes da minha carreira. Ainda tenho contato com quase todos, com o Arana tenho mais. A gente conversa, comenta as histórias um do outro, dando risada, zoando um ao outro mesmo, essas coisas.
Marciel é bicampeão Brasileiro com o Corinthians
Arquivo pessoal
Em 2017, você teve o desenvolvimento da Alopecia. Foi uma questão genética? Foi estresse?
– Sim. A Alopecia Areata aconteceu do nada. Eu lembro que eu estava em casa e o meu sobrinho viu um buraco na minha cabeça. Até hoje eu tenho, só que eu não tomo mais remédio, não tomo mais nada. Eu tomei corticoide e acabei ficando cinco meses fora dos gramados, fiquei só treinando. Depois desse tempo aí eu não tomei mais nenhum remédio. Isso aí disseram que é estresse e ansiedade, mas eu não estou estressado e não tenho ansiedade também. Eu não sei dizer o que é isso na minha cabeça.
Você chegou a procurar tratamento na época? O diagnóstico veio a partir do quê?
– Veio do Corinthians mesmo. O doutor Joaquim (Grava) me passou uma outra empresa, que era um outro hospital que fazia esse tratamento de Alopecia Areata e acabou que eles aplicaram corticoide na minha cabeça, que não pode, né? Aí eu acabei ficando cinco meses afastado. Eu só fui fazer o tratamento, aplicaram e eu achei que eles já estavam sabendo. Aí cheguei lá depois, mostrei o papelzinho, tinha corticoide e acabou que fiquei afastado. Me prejudicou bastante. Porque eu não vinha em uma sequência e acabou que deu tudo errado. Acredito que não foi na maldade, acho que até a doutora que aplicou não estava sabendo e acabei ficando cinco meses fora.
Marciel, ex-Corinthians, comenta sobre a experiência com Alopecia
– Mas o bom foi que deu para treinar bastante. Depois eu voltei na Sul-Americana, voltei bem também. A gente não teve sequência na Sul-Americana e depois no Brasileiro acho que já estava decidido quem era campeão quando eu voltei, aí eu só fiz os últimos jogos. Depois que eu usei esse remédio, não usei mais tratamento nenhum, não usei remédio nenhum, eu deixei ao natural. Agora, se for para cair, que caia. E se ficar assim, tá bom. Não faço tratamento nenhum. Acho que o meu tratamento agora está em casa, com as minhas filhas, elas que me acalmam, que me dão a minha paz diária. É isso o que me tranquiliza. Não cheguei a passar por nenhum psicólogo.
Também na passagem pelo Corinthians, teve um episódio em que rolou uma briga sua com o Vilson. Foi algo que já vinha acontecendo, foi algo momentâneo?
– Foi algo que aconteceu ali na hora, eu acho que ele foi treinar de cabeça quente. Acabou que eu roubei uma bola dele, ele já virou bravo. Mas na hora ali mesmo eu aceitei a desculpa. Não levei nada para fora de campo e a gente seguiu junto ali até o final do campeonato.
Marciel e Vilson durante treino do Corinthians
Diego Ribeiro
Qual é o seu sentimento hoje em relação ao Corinthians?
– Tenho uma relação de gratidão, eu entendo até o caso. Naquela época tinha muito volante ali que não tinha como ficar disputando com os caras. Renato Augusto, Jadson, Ralf, os caras estavam em outro nível, outro patamar. Mas é só gratidão pelo Corinthians e agradecer por todas as oportunidades. Agora que eu estou mais maduro, já aprendi bastante. Agora estou com a mesma pegada do Ralf, a inteligência do Jadson e do Renato Augusto. Acho que essas coisas a gente tem que pegar deles, até nas resenhas a gente aprende com eles.
Marciel, ex-Corinthians, fala sobre desentendimento com Vilson
Ficou algum arrependimento seu daquela época? Se pudesse mudar alguma coisa, você acredita que teria tido mais espaço ou mais sucesso ainda no Corinthians?
– Eu acho que eu tinha que treinar mais. Eu achava que eu era melhor que um e que outro e acabava treinando pouco. Então agora que eu estou mais maduro e vendo as coisas, agora eu entendo o porquê de não estar tendo oportunidade. Eu treinava forte vez ou outra, não treinava todos os dias forte. Acho que foi isso que me fez não ter muita oportunidade. Ninguém chegou a me dar um toque. O único que falava para nós era o Ralf, que falava “treina, treina para você e tal”, mas entrava por um ouvido e saía pelo outro. A gente achava que conseguiria jogar de qualquer jeito, é isso que bate o arrependimento hoje. Eu não treinava 100%, treinava 70, 80 e acabou não dando certo.
Quais são as suas expectativas hoje no Santo André? Como é a estrutura que você encontrou no clube?
– Nosso objetivo é ajudar também o Santo André a conseguir objetivos ano que vem. Copa do Brasil e Série D de novo, se não subir para a C esse ano. Aqui tem uma estrutura muito boa, campo sintético agora que os caras acabaram de terminar de fazer. Um clube grande, como você falou, campeão da Copa do Brasil. Mas acho que são só esses detalhes aí, conseguir acesso para se manter entre os grandes de São Paulo.
*Colaborou sob supervisão de Diego Ribeiro
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