Ameaça de recrutamento de ultraortodoxos ao Exército reforça a crise no governo Netanyahu

Ministro da Defesa apoia fim da isenção de comunidade religiosa ao serviço militar, irritando premiê e os parceiros que sustentam sua coalizão extremista. A isenção dos ultraortodoxos ao serviço militar em Israel representa um importante foco divisor de religiosos e seculares, que recrudesceu com a guerra empreendida há quatro meses pelo governo contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, abriu uma nova crise com o premiê Benjamin Netanyahu ao apoiar o fim da isenção do recrutamento militar aos membros da comunidade religiosa, que representa 16% dos cidadãos israelenses.
Os partidos ultraortodoxos são essenciais para o funcionamento e a sobrevivência da coalizão extremista liderada por Netanyahu e asseguram uma série de benefícios em relação aos demais setores da sociedade.
A pressão pela extensão do recrutamento militar a essa comunidade tem o aval da Suprema Corte — a mesma que o premiê quer esvaziar com o seu projeto de reforma judicial, encarado como golpe por boa parte da sociedade.
Em três ocasiões, o tribunal decidiu que a exclusão do serviço militar para estudantes das escolas religiosas é discriminatória, ilegal e viola o princípio da igualdade. A partir disso, o tema foi devolvido ao Parlamento israelense.
Os sucessivos acordos entre o premiê e os partidos representados pelos ultraortodoxos adiaram uma solução, até que a procuradora-geral, Gali Baharav-Miarak se pronunciou em favor do recrutamento dos homens desta comunidade, se até o dia 1 de abril o Parlamento não apresentasse um projeto de lei.
Segundo as Forças de Defesa de Israel, 66 mil jovens ultraortodoxos foram liberados do serviço militar, obrigatório para os demais durante o período de pelo menos dois anos.
Enquanto isso, a guerra contra o Hamas — desencadeada após o massacre de 1.200 israelenses por terroristas infiltrados no sul do país, obrigou o Exército a convocar 300 mil reservistas, com reflexos na economia.
Com a prorrogação da guerra em Gaza, este reforço foi ampliado, assim como o adiamento da aposentadoria dos reservistas ativos, deflagrando mais indignação e revolta entre os israelenses seculares contra o desgastado governo israelense.
Os ultraortodoxos são dispensados do serviço militar, para que possam estudar as escrituras judaicas em tempo integral, nas escolas religiosas subsidiadas pelo governo.
Em discurso transmitido à nação na quarta-feira, o ministro Gallant explicou que os combates em Gaza e na fronteira norte, com o Hezbollah, exigem a participação de todos os setores da sociedade.
“O fardo do serviço militar tem sido um desafio há 75 anos e estamos num tempo de guerra que não conhecíamos há 75 anos. Portanto, somos obrigados a fazer acordos e decisões, o que não fazemos há 75 anos”, ponderou Gallant.
As palavras do ministro surpreenderam e irritaram Netanyahu. Gallant ainda conclamou os partidos de centro a se juntarem em um projeto de lei que estenda o serviço militar aos religiosos para torná-lo viável. Jogou a bola para o campo de Benny Gantz, do Partido da Unidade Nacional, que lidera as pesquisas de opinião para suceder a Netanyahu.
Não é a primeira vez que o premiê e o ministro da Defesa externam publicamente suas divergências. No ano passado, Gallant foi demitido pelo premiê, depois de manifestar-se contra a sua reforma judicial, e readmitido em seguida, em função dos protestos gigantescos contra a sua saída.
Dependente de seus aliados ultraortodoxos, Netanyahu enfrenta agora também a ira desta parcela da sociedade israelenses, refletida em manifestações de religiosos para fugir ao recrutamento militar. “Morreremos e não nos alistaremos”, gritavam centenas deles ao bloquearem no domingo uma rodovia perto de um bairro ultraortodoxo.

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